quinta-feira, 15 de julho de 2010

Blackout, silêncio cochia, luz... Ação!

Escrever na terceira pessoa nunca foi um forte meu.
Tenho uma necessidade descabida de me inserir em qualquer narrativa que faça. Mesmo que ela trate de monstros de três cabeças, heróis com dentes de ouro, águas vivas voadoras que possuem espadas de titânio... Ainda assim, darei um jeito de aparecer, mesmo que escondida atrás da árvore das promessas, deixada pelos antepassados destes mesmos heróis.

Já quando atuo, a minha facilidade em me despir de mim e absorver o personagem, é gritante!
Recebo a sinopse. Leio o texto. Entendo por alto o que ele diz, o que ele vive e *TAM TAM* (!), num passe de mágica, já sei que sotaque ele terá, com que trejeitos ele entra e sai do palco, que tom de voz é o mais recomendado...
Ainda que isso tudo mude, milhares de vezes; eu sei exatamente onde termino eu e onde começa meu personagem.
Contrariando George Bernard Shaw, que dizia "Talvez no teatro todos se divirtam, mas não o ator", atrevo-me a dizer que não conheço qualquer outro lugar onde me sinta mais confortável e livre, que no palco.


Sala Jardel Filho - São Paulo


Deixar de viver os meus problemas e preocupar-me com problemas que de fato nem existem, com sentimentos que definitivamente ninguém está vivendo, com trejeitos, características e modos que ninguém possui, não pode ser outra coisa que não: mágico.
A sensação ainda alimenta-se do fato de que eu não vejo minhas atuações. Não sei o que fiz, onde errei.
Viver sem exame de consciência é divino.

Já me vi diversas vezes fazendo com que um personagem invadisse o espaço cênico do outro.
Já misturei mineira e velha beata num só papel. E nem me dei conta.
Sei que devo ter algum tipo de depósito de personagens dentro de mim e quando preciso de alguma referência, é lá que busco. E saem alguns que eu nem imaginava que tinha.

E já passaram por mim a nordestina assassina, que deixou o sotaque e o ímpeto ao falar; a velha beata, já citada, que me visita constantemente e exige de mim amargura e bom humor; a drogada; o bufão; a suicída; a senhorita de bons costumes que vive no séc XVIII; a professora ditadora; a histérica moralista; a Chapéuzinho vermelho; a Julieta... Enfim...
Tantos e cada um com tanta história, tanta vida, tantos sonhos.

E de todos, o que guardo com mais carinho é Macabéia.
A única que não interpretei. Essa mesma Macabéia que você está pensando, da obra de Clarice Lispector - A Hora da Estrela.
Adaptei, montei, construí, dirigi e vi acontecer.
E não invadi seu espaço. Não precisei me colocar na história dela. Não precisei fazer parte. Não estava presente espiando por detrás da cortina da casa, não apareci como a sorveteira da história, não era eu a amiga secretária. Nada.
Talvez porque Macabéia tenha sido a personagem onde mais me vi. Me vi tanto, que não precisei aparecer mais que aquilo.

Talvez eu não saiba definir hoje, que personagem sou. Talvez eu saiba montar um com minhas características. Com outras histórias, mas meus trejeitos. Ou outras marcações, mas minhas histórias...
Quando quiser, sei exatamente onde buscá-lo, onde irei encontrá-lo.
Mas por enquanto, deixo-o quietinho.
Insiro-me aos poucos em textos, anulo-me em outros personagens e faço em mim tantas outras vidas que nem faz-me falta saber qual seria meu sotaque, meus trejeitos, meu tom de voz...

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Pra efeito de causa e circunstância.

Quando se faz um blog, nada é mais clichê que seu primeiro post seja sobre o próprio blog. Apresentando-o, definindo suas diretrizes, explicando seus motivos para criá-lo.
Quando se faz um blog por não conseguir expressar suas opiniões em 140 caracteres, numa frase de orkut ou nick de msn, fica explícito o quão prolixo você é e isso, muito provavelmente, expulsará todos seus possíveis leitores.
Mas quando se faz um blog porque numa noite você tem um sentimento te rondando e não consegue defini-lo em palavras, não sabe externalizá-lo, não sabe defini-lo, aí, caro amigo, você é um caso perdido.
Quem em sã consciência cria um espaço para publicar seus pensamentos quando não faz a menor ideia do que eles querem realmente dizer? Pois é...
E numa aleatoriedade de pensamentos, você pega um de cada vez, mistura com outro; conjuga verbos em tempos variados, acrescenta um ditado popular, umas reticências, algumas exclamações e voilá, eis um blog sem qualquer motivo, mas que faz todo sentido pra você.
E vai ser assim. Atingiu a tampa? Não cabe mais em mim? Não é compatível com o que posso aguentar (seja bom ou ruim)? Não deu mais? Cansou? É bem possível que seja publicado.
Consequências do efeito estafa.